Compromisso com o outro

As pastorais representam o coração de toda a evangelização na Igreja e nas paróquias. No século XVII, um cristão leigo, Frederico Ozanan, hoje declarado beato pela Igreja, fundou as Conferências de São Vicente de Paulo, um movimento inspirado na obra do “santo da caridade”. As conferências, no sonho de Ozanan, tinham como objetivo discutir as causas da pobreza. Porém, para evitar que essas discussões permanecessem apenas no âmbito teórico, cada conferência deveria assistir e promover uma família carente.

No século XX, o Concílio Vaticano II (1962 a 1965) incentivou a Igreja, cada vez mais, a atuar no serviço aos pobres da sociedade, dentre eles, oferecendo apoio, orientações e conforto espiritual, e oportunizando a vivência da caridade, compreendida como o amor a Deus e ao próximo.

Os Movimentos, embora atuem nas paróquias, são geralmente regidos por estatutos próprios e possuem coordenações específicas, como o Apostolado da Oração e a Legião de Maria, entre outros. Já as pastorais oferecem uma assistência religiosa, espiritual, formativa ou social, de acordo com as necessidades de pessoas ou grupos, como nos encontros de noivos para preparação do matrimônio; encontros de pais e padrinhos que se preparam para batizar, entre outras atividades.

A Ação pastoral da Igreja no Brasil consiste, atualmente, no conjunto de atividades pelas quais a Igreja realiza a sua missão de continuar a ação de Jesus Cristo junto a diferentes grupos e realidades (CNBB).

Na Arquidiocese de Mariana, Dom Luciano deu um grande impulso à ação pastoral, organizando essa Igreja particular em cinco Regiões Pastorais. Ele dedicou especial atenção à formação permanente do clero, à realização de assembleias pastorais e à reestruturação de conselhos arquidiocesanos.

Toda ação da Igreja tem como objetivo o ser humano. As pastorais atuam diretamente em áreas com a juventude, Liturgia, Batismo, Comunicação, Família, Catequese, Crisma, Dízimo e Carcerária, movidas por um verdadeiro amor à Arquidiocese.

ENTREVISTA

Entrevistado: Padre José Geraldo de Oliveira (Coordenador Arquidiocesano de Pastoral). O sacerdote cursou Filosofia e Teologia no Seminário São José, em Mariana (MG), é pós-graduado em Teologia Pastoral pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e já atuou como Representante dos Presbíteros, Diretor do Departamento Arquidiocesano de Comunicação (Dacom) e Vigário Episcopal.

Entrevistador: Mauro César Alves Martins, discente do 4º período do curso de Bacharelado em Filosofia da Faculdade Dom Luciano Mendes.

A entrevista tem como objetivo apresentar elementos da Ação Pastoral na Arquidiocese de Marina em relação ao seu desenvolvimento histórico e sua atividade atual, tendo em vista as comemorações dos 280 anos da Arquidiocese de Mariana, trabalhado na VII Semana Dom Luciano e Projeto Memória, da FDLM.

Entrevistador: Como ocorre a divisão pastoral na Arquidiocese de Marina?

Pe. José Geraldo: Devido à grande extensão territorial e à diversidade cultural, a Arquidiocese tem sua ação pastoral descentralizada, de modo que possa dar uma resposta satisfatória aos desafios de cada realidade. Há os conselhos pastorais em diversos níveis, aos quais cabe organizar, orientar e subsidiar as ações em cada instância: Coordenação Arquidiocesana de Pastoral, Conselho Arquidiocesano de Pastoral, Conselhos Regionais de Pastoral, Conselhos Paroquiais de Pastoral e Conselhos Comunitários de Pastoral. Atualmente, há um esforço de reorganização das foranias, a fim de que, congregando as paróquias mais próximas e encurtando as distâncias, possa-se aproximar mais das bases, que são as comunidades.

Entrevistador: Quem são os membros atuantes?

Pe. José Geraldo: São membros destes conselhos os assessores religiosos e os leigos (as) coordenadores de cada dimensão da evangelização e de cada pastoral nas suas devidas instâncias.

Entrevistador: Como nasce o Centro de Pastoral Monsenhor Vicente Diláscio?

Pe. José Geraldo: Nasce da necessidade de congregar, organizar e subsidiar as forças pastorais e evangelizadoras existentes na Arquidiocese. Denominado Centro Arquidiocesano de Pastoral Mons. Vicente Diláscio, tornou-se uma referência para a ação pastoral da Arquidiocese, acolhendo reuniões e encontros arquidiocesanos. Abre suas portas, ainda, para outros encontros e eventos cujos objetivos vão ao encontro da proposta do evangelho.

Entrevistador: Qual a base que sustenta essa dimensão?

Pe. José Geraldo: A base de sustentação são os pequenos grupos e as comunidades que se organizam para ler, refletir a Palavra de Deus, à luz da realidade e vivenciá-la na prática do cuidado com a vida, em todas as suas instâncias e aspectos, como o pastor que cuida das ovelhas.

Entrevistador: Qual o tema atualmente discutido por essa dimensão?

Pe. José Geraldo: É difícil falar de um tema, pois a realidade de nossa Arquidiocese é muito diversificada e as ações pastorais procuram dar uma resposta às exigências de cada momento em cada região pastoral. Como luz para essas ações, a Arquidiocese tem o seu Projeto Arquidiocesano de Evangelização, construído com a participação das paróquias e suas comunidades. Sempre entram na pauta os grandes temas da Igreja: Igreja em Saída, Sinodalidade e, atualmente, o Ano Jubilar 2025.

No momento, está sendo preparada, a partir das paróquias e suas comunidades, a Assembleia Arquidiocesana de Pastoral, que é espaço de avaliação, organização e projeção das ações na Arquidiocese.

Entrevistador: Quais os desafios que essa dimensão encontra hoje?

Pe. José Geraldo: Cada região pastoral tem seus próprios desafios. Mas podemos citar alguns mais amplos, como a mineração predatória, as áreas rurais com grande número de comunidades pobres, a pobreza nas periferias das cidades maiores, o tráfico e consumo de drogas, a exploração política, a falta de espaço para a juventude (pastoral estudantil), a dificuldade de convivência com as diferenças (polarização), a distância entre a pregação e a opção preferencial pelos pobres…

Entrevistador: Quais as contribuições de Dom Luciano em relação a ação pastoral? E o que prevalece dessa contribuição?

Pe. José Geraldo: De acordo com as circunstâncias de cada época, a Arquidiocese teve sua ação pastoral, em maior ou menor intensidade, uma vez que a pastoral é a ação do Cristo Pastor. Dom Luciano já encontra uma base formada, a partir da qual foi possível construir. É verdade que não se dava o nome de “pastoral”, mas a ação o era. Basta lembrar as diversas comunidades que já estavam organizadas ou se organizando, Movimentos de Jovens (Emaús, Shalom, Grupos de jovens…), Cursilhos de Cristandade, equipes de catequese, de liturgia, de assistência aos pobres…

Toda a vida de Dom Luciano na Arquidiocese foi de total doação. Suas palavras e exemplos nunca serão esquecidos. Dentre as grandes contribuições, arrisco-me a citar algumas, diante de tantas outras: Amou a cada padre como seu filho, deu total abertura e valorização aos leigos e leigas, mostrou que a ação evangelizadora deve dar uma resposta concreta para cada problema concreto; mostrou com suas ações que cada pessoa é importante no plano de Deus e nos ensinou a ser uma igreja pobre ao lado dos pobres e sofredores. Dom Luciano não se limitava a enviar, ele mesmo ia à frente, como o pastor que conduz suas ovelhas.

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