A sucessão de Dom Viçoso foi realmente bastante difícil. O clero diocesano, especialmente o da cidade episcopal, aguardava com ansiedade o sucessor do querido e santo bispo. A magnitude da obra e as inúmeras virtudes do antecessor deveriam servir de balizamento para a escolha. Grande foi a decepção na província, quando o cônego João Higino Bittencourt, o primeiro escolhido, recusou a sua nomeação. Àquela altura, apesar do período de vacância, a administração episcopal não se encontrava abandonada, uma vez que estava sobre a responsabilidade do então vigário capitular, o brilhante Dom Silvério.
Em 1876, foi eleito bispo de Goiás, o Pe. Antônio Maria Correia de Sá e Benevides, porém diante da vacância de Mariana, a Princesa Imperial regente o transferiu para a diocese primeira de Minas Gerais. Em 17 de novembro de 1877, faz sua entrada solene à cidade episcopal, quatro dias depois de ter tomado posse por seu procurador.
Fluminense de Campos, nasceu em 1836 e ordenou-se aos 29 anos. Foi o primeiro bispo brasileiro da diocese, responsável por uma administração produtiva e de importante legado. Dedicado pastor, realizou várias visitas pastorais ao bispado, ocasiões em que buscava dar continuidade à obra de Dom Frei Manoel e Dom Viçoso, ao levar e incentivar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus em todos os cantos da província. Foi também o responsável pela instituição do mês do Rosário na diocese. Por motivos de saúde, não completaria a visita geral ao bispado iniciada em 1878, tendo percorrido dois terços dela.
Homem de refinada intelectualidade e grande pianista, em 1863, havia sido sócio fundador e mais tarde presidente do Instituto dos Bacharéis em Letras do Rio de Janeiro. Por vários anos, exerceu a docência com notório brilho, no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Para Mariana, trouxe de volta o Seminário Maior, que, há trinta anos, funcionava no Caraça. Com o intuito de absorver o enorme número de estudantes que pretendiam educar-se no Seminário, fundou o Externato Episcopal de Mariana, onde muitos homens mineiros obtiveram educação de alta qualidade.
Agindo com o então Monsenhor Silvério, tratou de garantir junto à comissão construtora de Belo Horizonte o respeito às coisas da Igreja diante da concepção da nova capital, que tornara inevitável a demolição da antiga matriz do Curral Del Rei. Diante da situação inevitável, receberam a promessa do então presidente de Estado, Afonso Pena, filho da diocese, da inclusão de novas e várias igrejas no projeto da capital.
Assim como todo o episcopado nacional da época, em muito contribui Dom Benevides com suas eloqüentes palavras e atos pela abolição da escravidão até a concretização desta em 1888, causando profunda alegria ao bispo.
Seria também, durante seu episcopado, instituída a república no Brasil. A propósito desse fato, padres de destaque nacional escreveram a Mariana criticando o silêncio dos bispos, visto como pouco patriótico pelos reclamantes, que classificavam a nova ordem política de “marcha vertiginosa rumo ao abismo”. Respondeu a eles o bispo: “O silêncio dos bispos não era para se estranhar; para estranhar se é impertinência daqueles que não o são”[i].
Diante do clima de indisciplina e insubordinação de vários padres monarquistas, foi expedida a pastoral coletiva de Dom Macedo da Costa, da qual Dom Benevides foi um dos signatários. Nela, ficava clara a condenação aos excessos e opressões de parte do padroado em função da nova ordem política, mas não havia no documento nada que significasse adesão ao novo Estado. Dom Benevides era um dos que colocava em dúvida se o novo regime, que separava o Estado da Igreja, seria benéfico para a liberdade da Igreja no Brasil. Já doente, vivera mais sete anos e pôde ver aquilo que a pastoral coletiva já dizia: foi-se o trono, mas o altar permaneceu de pé, edificado pela fé e pelo amor do povo brasileiro.
Sofreu por muitos anos as dores de sua frágil saúde, dificuldades que jamais lhe tiraram a fé ou a sua dedicação para com suas obrigações episcopais. Quando esteve incapacitado para realizar visitas, constituiu, como visitador, seu amigo e mais fiel colaborador monsenhor Silvério que, em 1890, seria eleito bispo auxiliar para assumir quase todas as funções do prelado titular até sua morte em 15 de julho de 1896.
Fonte: SANTIAGO, Marcelo Moreira. et al. Igreja de Mariana. 261 anos de história. 100 anos como Arquidiocese: 1906-2006. Mariana: Gráfica Dom Viçoso, 2007, p. 81-85.
[i] TRINDADE, Cônego Raymundo. Arquidiocese de Mariana – subsídios para sua história. v.1. Mariana: Escolas Profissio- nais do Liceu Coração de Jesus, 1927. p. 510.