Quando Dom Frei José da Santíssima Trindade foi eleito Bispo de Mariana, confirmado por Bula de 1819, o mundo atravessava uma era de profundas transformações e em Minas Gerais não seria diferente. O pensamento liberal que fundamentou o capitalismo já havia tido seu marco primordial décadas antes com a Revolução Francesa e chegou à América com a Revolução Norte Americana e, pela mesma época, inspiraria também a Inconfidência Mineira. As instituições que até então balizavam a vida social dos homens no mundo ocidental e no Brasil, especialmente a Coroa e a Igreja, estavam prestes a sofrer transformações definitivas.
O ato de sua posse em 25 de março de 1820 é marcado por farta distribuição de esmolas para os necessitados da cidade. Desde seus primeiros atos como Bispo, dedica-se ao reerguimento do Seminário de Mariana, onde realiza importantes obras e consegue reabri-lo em janeiro do ano seguinte. Entre 1821 e 1825 faz visita geral a todo bispado que, àquela altura, contava com setenta e uma paróquias e trezentos e doze curatos. Proibiu os enterros nas igrejas e, em Mariana, construiu o Cemitério de São Gonçalo e um grande hospital no bairro Santana.
Foi no início de seu episcopado que o Padre Antônio Ferreira Viçoso chega ao Caraça com seus irmãos lazaristas para fundarem o Colégio. Anos mais tarde, em 1827, a mesma missão assume o Santuário de Congonhas e lá é construído outro importante educandário.
Apesar de derrotados, os Inconfidentes, assim como seus predecessores de 1720, tornaram mais vivo o sentimento patriótico dos mineiros, especialmente em Ouro Preto e Mariana. A Ouro Preto de então rivalizava em luxo e sofisticação com as cidades européias. As artes e a cultura ajudavam a fomentar o pensamento liberal que, por diversas vezes, teve suas convicções debatidas e foi alvo de críticas por parte do Bispo. Este comportamento próprio do homem nascido no Portugal absolutista de 1762 acabou por gerar desconfianças entre os patrióticos mineiros. Porém, Dom Frei José da Santíssima Trindade se mostraria um defensor das causas brasileiras ao apoiar efusivamente a decisão do Imperador de ficar no Brasil e a posterior Independência em 1822. Esteve presente à sagração do Imperador e foi por ele escolhido para ser uma das hostes do Triunvirato que governou Minas durante os primeiros dias do Império.
Enfermo, após um período de três meses, falece aos setenta e três anos em setembro de 1835.
Para saber mais, clique e ouça nosso podcast
Fonte: SANTIAGO, Marcelo Moreira. et al. Igreja de Mariana. 261 anos de história. 100 anos como Arquidiocese: 1906-2006. Mariana: Gráfica Dom Viçoso, 2007, p. 67-70.